2024-09-14 HaiPress
Queimadas no Pantanal avançaram cerca de 1000% no período que antecede o auge da temporada do fogo — Foto: Divulgação/Governo do MS
GERADO EM: 14/09/2024 - 03:30
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Mesmo com percepção geral de melhora em comparação à gestão de Jair Bolsonaro (PL),o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê crescer a avaliação negativa em áreas como meio ambiente e segurança pública,de acordo com dados inéditos da última pesquisa Ipec obtidos pelo GLOBO. Para especialistas,os números refletem,por um lado,o impacto de crises recentes,como o avanço das queimadas; mas,por outro,sinalizam uma resiliência da rejeição ao petista em uma parcela significativa do eleitorado,fruto do cenário de polarização desde o pleito de 2022.
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Segundo o levantamento do Ipec,divulgado anteontem,35% dos entrevistados consideram o governo Lula ótimo ou bom,percentual quase idêntico aos 34% que avaliam a gestão como ruim ou péssima. A pesquisa mostrou ainda que,para 38%,a situação do país melhorou em comparação ao período que antecedeu a presidência de Lula,enquanto 34% consideram que piorou. A margem de erro é de dois pontos.
Na avaliação por temas específicos,no entanto,em quase todos a atuação do governo é mais apontada como negativa que como positiva. A exceção é a área de educação,em que 37% avaliam a atual gestão como ótima ou boa,enquanto 34% a consideram ruim ou péssima — três pontos a mais do na pesquisa anterior,de abril.
Na comparação com a última pesquisa do Ipec,o maior salto na percepção negativa ocorreu no meio ambiente,até então uma das áreas em que o governo era mais bem avaliado. Agora,44% consideram que a gestão de Lula é ruim ou péssima nesta área,11 pontos a mais do que no levantamento de abril. O período foi marcado por enchentes no Rio Grande do Sul e,mais recentemente,por queimadas que atingem diversos estados,e principalmente biomas como a Amazônia e o Pantanal,em meio à pior seca já registrada no país.
A reprovação ao desempenho do governo no meio ambiente cresceu mais nas regiões Norte e Centro-Oeste,onde se localizam esses dois biomas,e no interior do país,mais atingido por queimadas.
A diretora do Ipec,Márcia Cavallari,observa que também piorou a percepção do governo na segurança pública,tema que vem perpassando campanhas eleitorais. Além disso,em áreas como combate ao desemprego e inflação,apesar de indicadores positivos recentes,o índice de avaliação negativa sobre o papel do governo ficou quase inalterado.
— No caso do meio ambiente,os números refletem a cobrança ao governo por ações que possam prevenir ou minimizar a ocorrência de queimadas. Mas também é possível que uma parte relevante das avaliações negativas venha de pessoas contrárias ao presidente Lula,e que por mais que se faça não vão avaliar positivamente. Basta reparar que só 8% dos que votaram em Bolsonaro em 2022,segundo a pesquisa,consideram que a situação do país melhorou no atual governo,enquanto 70% dos eleitores de Lula acreditam nisso — diz Cavallari.
A crise no meio ambiente,embora tenha gerado piora na percepção inclusive entre eleitores lulistas,foi recebida de forma mais negativa por quem votou em Bolsonaro. Segundo o Ipec,69% dos eleitores bolsonaristas de 2022 consideram a atuação do governo ruim ou péssima na área,uma alta de 14 pontos frente a abril. Entre eleitores de Lula,a avaliação negativa subiu nove pontos,para 19%. Mesmo com uma queda em relação a abril,porém,48% dos lulistas avaliam a gestão como ótima ou boa neste tema.
O cientista político Antônio Lavareda,diretor do Ipespe,avalia que estratégias de Lula para divulgar ações de seu governo,como entrevistas em rádios locais pelo país,esbarram em um cenário político “enrijecido”.
— A campanha de 2022,de Lula contra Bolsonaro,simplesmente não terminou. Isso ajuda a reproduzir o quadro comportamental da eleição na atitude dos entrevistados em relação ao atual governo — avaliou Lavareda.
Em entrevistas recentes,Lula tem repetido que o governo “está trabalhando muito”. Nesta semana,em participação na Rádio Norte do Amazonas,o presidente se referiu desta forma à ministra do Meio Ambiente,Marina Silva,e buscou reforçar ações de seu governo em outras áreas sensíveis,como o combate ao crime organizado,que também associou ao desmatamento.
Mesmo com a crise das queimadas,o entendimento no Palácio do Planalto é que os esforços necessários para conter os incêndios têm sido feitos pelos ministérios,o que inclui a atuação de Marina. No caso das queimadas,ainda não há no horizonte da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) uma campanha específica para alertar a população sobre os focos de incêndio e os cuidados a serem tomados. Procurados via assessoria de imprensa,a Secom e o Ministério do Meio Ambiente não responderam.
O entorno do ministro Paulo Pimenta,que retornou anteontem ao posto — após ficar quatro meses na pasta de reconstrução do Rio Grande do Sul — diz que esse tema será um dos trabalhado por ele a partir da próxima semana.
Auxiliares do Planalto entendem que há certa demora,desde o início do governo,na resposta a crises que atingem a gestão,o que abre brecha para propagação de desinformação. Nesta semana,a ministra da Saúde,Nísia Trindade,convocou uma entrevista para anunciar ações da pasta e prestar orientações à população,em meio às queimadas,iniciativa que interlocutores de Lula cobram de outras pastas.