2025-06-03
IDOPRESS
Reserva Nacional de Petróleo do Alasca fica a cerca de 965 quilômetros ao norte de Anchorage,delimitada pelo Mar de Chukchi a oeste e pelo Mar de Beaufort ao norte — Foto: Bob Wick / Departamento de Administração de Terras / via NYT
O governo de Donald Trump disse nesta segunda-feira que planeja eliminar as proteções federais em milhões de hectares de áreas selvagens do Alasca,uma medida que permitiria a perfuração e a mineração em algumas das últimas áreas selvagens intocadas do país. Segundo o secretário do Interior,Doug Burgum,o governo de Joe Biden excedeu sua autoridade no ano passado quando proibiu a perfuração de petróleo e gás em mais da metade da área de 9,3 milhões de hectares,conhecida como Reserva Nacional de Petróleo do Alasca.
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A revogação proposta faz parte da agenda agressiva do presidente Trump de "perfurar,perfurar,perfurar",que exige maior extração de petróleo e gás em terras públicas e a revogação de praticamente todas as proteções climáticas e ambientais.
"Estamos restaurando o equilíbrio e colocando nosso futuro energético de volta nos trilhos",disse Burgum em um comunicado.
A Reserva Nacional de Petróleo do Alasca é uma área ecologicamente sensível a cerca de 960 quilômetros ao norte de Anchorage,delimitada pelo Mar de Chukchi a oeste e pelo Mar de Beaufort ao norte. É a maior área de terras públicas dos Estados Unidos. Abrange um habitat crucial para ursos-cinzentos,ursos-polares,renas,milhares de aves migratórias e outros animais selvagens.
Criadas no início dos anos 1900,as reservas foram originalmente concebidas como um suprimento de combustível para a Marinha em tempos de emergência. Mas,em 1976,o Congresso autorizou o desenvolvimento comercial completo das terras federais e ordenou que o governo equilibrasse a perfuração de petróleo com a conservação e a proteção da vida selvagem.
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Burgum acusou o governo Biden de priorizar "a obstrução em detrimento da produção e minar nossa capacidade de aproveitar os recursos nacionais em um momento em que a independência energética americana nunca foi tão crítica".
O anúncio foi feito durante a viagem de Burgum ao Alasca,acompanhado por Lee Zeldin,administrador da Agência de Proteção Ambiental (EPA),e Chris Wright,secretário do Departamento de Energia. A expectativa era que os três incentivassem empresas a perfurar em áreas sensíveis,como o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico,e apoiassem a construção de um gasoduto de gás natural liquefeito no estado.
O plano para permitir a perfuração na reserva de petróleo recebeu elogios da indústria petrolífera.
As emissões da queima de combustíveis fósseis são o principal fator das mudanças climáticas,que estão aquecendo o planeta e criando novos padrões climáticos perigosos. O Alasca está aquecendo a uma taxa de duas a três vezes mais rápida que a média global,resultando no degelo do permafrost e no derretimento do gelo marinho. Isso também está interrompendo as práticas de caça,pesca e coleta de alimentos das comunidades indígenas.
Grupos nativos do Alasca estão divididos sobre os planos do governo Trump para a região.
— Muitas vezes,decisões federais que afetam nossas terras são tomadas sem o envolvimento dos Inupiat da Encosta Norte,as pessoas mais afetadas por essas decisões — disse Nagruk Harcharek,presidente da Voice of the Arctic Inupiat,que representa organizações de liderança Inupiat na Encosta Norte e apoia projetos de petróleo e gás.
O grupo apoia a autorização de projetos de petróleo e gás na região,e Harcharek disse que a visita de Burgum e outros "mostra que o governo federal vê nossas comunidades e pessoas como parceiros,não como um exercício de cumprimento de obrigações".
Outros disseram que a abertura da reserva ameaçava destruir o habitat das renas e de milhares de aves migratórias,além de colocar em risco as comunidades que dependem da caça de subsistência.
— Isso é muito preocupante para nós — disse Rosemary Ahtuangaruak,ex-prefeita da cidade de Nuiqsut,predominantemente Inupiaq.
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Matt Jackson,gerente sênior da Alaska State na The Wilderness Society,um grupo ambientalista,chamou a revogação das proteções ambientais de um ultraje.
— Essa medida vai acelerar a crise climática em um momento em que o solo sob as comunidades do Alasca está literalmente derretendo e os alimentos de subsistência estão em declínio — disse Jackson.
Grupos ambientalistas e a indústria de combustíveis fósseis lutam há décadas pelos lugares mais remotos e intocados do Alasca,que muitas vezes ficam sobre depósitos significativos de petróleo,gás e minerais.
Em seu primeiro dia de mandato,o presidente Trump assinou um decreto abrindo o Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Ártico — lar de renas migratórias,bois-almiscarados,milhões de pássaros e outros animais selvagens — para perfuração. Mas uma venda de arrendamento realizada no local em janeiro fracassou,terminando sem um único licitante.