2025-05-30
HaiPress
A cafeína transforma o cérebro adormecido em um estado mais complexo e hiperativo — Foto: Freepik
GERADO EM: 29/05/2025 - 18:44
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
Aquela xícara de café que você tomou depois do jantar não só te fez ficar se revirando na cama,como também alterou fundamentalmente o funcionamento do seu cérebro durante o sono. Novas pesquisas revelam que a cafeína não bloqueia apenas o sono; ela transforma o cérebro adormecido em um estado mais complexo e hiperativo,que se assemelha a estar mais próximo do pico de desempenho mental,de acordo com um estudo publicado na revista científica Communications Biology.
Quem é o personal trainer e marido de Carla Marins,que deixou o corpo da atriz definido aos 56 anos?'Precisava ver aquilo': Mulher diz ter visitado o 'céu' e o 'inferno' após sofrer infarto e ficar clinicamente morta por 11 minutos
Ainda mais surpreendente: essa transformação cerebral induzida pelo café afeta os jovens adultos com muito mais força do que as pessoas de meia-idade,mostrando que sua relação com a cafeína muda drasticamente à medida que envelhecemos.
Para chegar a essa conclusão,pesquisadores da Universidade de Montreal,no Canadá,analisaram as ondas cerebrais de 40 pessoas saudáveis durante o sono após consumirem 200 miligramas de cafeína (aproximadamente o equivalente a duas xícaras de café) ou uma pílula de placebo. Os participantes passaram duas noites em um laboratório do sono.
A atividade cerebral foi registrada usando eletroencefalografia multicanal ao longo da noite,e a equipe aplicou múltiplas abordagens analíticas para identificar padrões que distinguiam o sono com cafeína do sono sem cafeína. Os resultados mostraram que a cafeína impulsiona o cérebro para o que é chamado de "regime crítico" — um estado em que as redes neurais operam com máxima eficiência e complexidade.
A complexidade e a criticidade do cérebro estão ligadas ao desempenho cognitivo ideal,ao processamento aprimorado de informações e à maior flexibilidade mental. Quando seu cérebro opera nessa zona crítica,ele está essencialmente funcionando a todo vapor,processando informações com mais eficiência e mantendo uma melhor comunicação entre as diferentes regiões cerebrais.
A maioria das pessoas presume que a cafeína simplesmente impede um sono de qualidade,mantendo-o acordado por mais tempo ou tornando o sono mais leve. O estudo revela algo ainda mais fascinante: a cafeína,na verdade,altera a natureza fundamental de qualquer sono,fazendo seu cérebro trabalhar horas extras mesmo durante os períodos de descanso.
Durante o sono não REM (a fase profunda e restauradora que normalmente apresenta baixa atividade cerebral),os participantes que consumiram cafeína apresentaram aumento drástico na entropia e na complexidade cerebral. Seus cérebros adormecidos exibiram padrões mais semelhantes aos da vigília,com processamento de informações e comunicação neural intensificados,o que normalmente não ocorreria durante essa fase crucial de recuperação.
Esse efeito foi muito mais forte em adultos mais jovens,com idades entre 20 e 27 anos,em comparação com participantes de meia-idade,com idades entre 41 e 58 anos,principalmente durante o sono REM. Os cérebros dos jovens apresentaram aumentos significativos em múltiplas medidas de complexidade e criticidade quando consumiram cafeína,enquanto os dos adultos mais velhos apresentaram respostas muito mais fracas.
Cérebros jovens reagem mais
As diferenças relacionadas à idade provavelmente decorrem de alterações nos receptores de adenosina,que são os "interruptores do sono" do cérebro que a cafeína bloqueia. À medida que as pessoas envelhecem,elas naturalmente perdem os receptores de adenosina A1,o que significa que a cafeína tem menos alvos para afetar.
Com mais receptores disponíveis em pessoas mais jovens,a cafeína pode exercer uma influência mais forte na dinâmica cerebral. Essa descoberta tem implicações práticas para o consumo de cafeína em todas as faixas etárias. Embora adultos de meia-idade possam sentir que conseguem lidar melhor com aquele expresso depois do jantar do que antes,os jovens adultos estão experimentando mudanças mais drásticas em sua atividade cerebral durante o sono. Essas são mudanças que podem afetar as funções restauradoras do sono.
Para entender o que os pesquisadores querem dizer com dinâmica cerebral "crítica",considere as redes neurais como uma orquestra perfeitamente afinada. Pouca atividade e o cérebro opera de forma lenta e ineficiente. Excesso de atividade cria caos. Mas,exatamente no ponto crítico,o cérebro atinge o desempenho ideal com o máximo processamento de informações.
A cafeína parece empurrar os cérebros adormecidos para esse estado crítico,particularmente durante o sono não REM. Os pesquisadores mediram isso usando diversas técnicas sofisticadas que observam o quão repetitivos ou variados são os sinais cerebrais e examinam padrões de longo alcance na atividade cerebral.
Todas as medidas apontaram para a mesma conclusão: a cafeína torna o cérebro adormecido mais complexo,mais variável e mais semelhante a um cérebro acordado,altamente ativo. Algoritmos de aprendizado de máquina conseguiram distinguir entre sono com cafeína e sem cafeína com até 75% de precisão,com base apenas nessas medidas de complexidade cerebral.
Pesquisas anteriores sobre cafeína se concentraram principalmente em efeitos óbvios,como o tempo que leva para adormecer,o quanto você se mexe na cama ou mudanças em frequências específicas de ondas cerebrais. Este estudo se aprofundou,utilizando técnicas de análise de ponta para examinar como a cafeína afeta a dinâmica fundamental das redes neurais.