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Em livro póstumo concluído por amigos, Dom Phillips navega labirinto de problemas e soluções da floresta

2025-05-30 HaiPress

Dom Phillips entrevistando a lider indígena macuxi Mariana Tobias,em Roraima — Foto: Nicoló Lanfranchi/divulgação

RESUMO

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GERADO EM: 29/05/2025 - 19:24

"Livro Póstumo de Dom Phillips Sobre a Amazônia é Lançado"

"Como Salvar a Amazônia",livro póstumo de Dom Phillips,foi concluído por amigos após seu assassinato em 2022. A obra,lançada pela Companhia das Letras,aborda desafios e soluções para a Amazônia,começando com capítulos escritos por Phillips e finalizada por colaboradores como Jon Lee Anderson e Eliane Brum. O livro explora iniciativas sustentáveis e a importância de políticas públicas complexas para preservar a floresta,destacando o protagonismo indígena e a crítica à retórica bolsonarista.

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"Este livro não se limita a descrever a destruição da Amazônia: procura formas de interromper a destruição e remediá-la",escreveu o jornalista Dom Phillips,assassinado em 2022 ao lado do indigenista Bruno Pereira,naquele que viria a ser o primeiro capítulo de seu último livro. "Salvar a Amazônia requer ver na floresta tropical um ativo,não um obstáculo ao progresso."

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A obra inacabada,concluída postumamente por amigos,é lançada terça-feira (27) pela Companhia das Letras no Brasil com seu ambicioso título original: "Como Salvar a Amazônia". Originalmente escrito em inglês,o livro tem seu lançamento em português simultâneo ao das edições americana e britânica.

Com apenas quatro capítulos terminados pelo autor que a concebeu,a obra foi concluída por nove amigos e colaboradores do jornalista,que se reuniram para refazer entrevistas e expedições cujo material resultante foi perdido com sua morte.

O material original recuperado por sua viúva,Alessandra Sampaio,incluía quatro capítulos iniciais. Os seis que faltavam foram reconstruídos com base em anotações de Phillips e com os resumos que ele havia escrito em um sumário estrutural enviado a seus editores.

A versão final da obra tem assinaturas de peso,incluindo a da escritora gaúcha Eliane Brum,que se destacou pela cobertura de temas socioambientais na região,e o jornalista americano Jon Lee Anderson,premiado correspondente de guerra e da cobertura de direitos humanos.

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Segundo Sampaio,a ideia de retomar o livro do ponto em que Phillips o tinha deixado partiu simultaneamente de várias das pessoas envolvidas no projeto.

— A coisa foi acontecendo naturalmente,com um sentimento de indignação de todo mundo — conta. — Pouco tempo depois de fazer as cerimônias de despedida do Dom,a gente começou a conversar,e aí foi se formando o grupo.

O trabalho envolveu uma dificuldade técnica na recuperação dos capítulos que estavam prontos,mas foi possível em parte por uma obra do acaso. Quando viajou ao Vale do Javari,no Amazonas,onde morreu numa emboscada,Phillips tinha deixado o notebook em casa em Salvador (BA). Com algum auxúlio técnico,foi possível recuperar backups protegidos por senha.

Dos vários cadernos de anotação do jornalista,dois caíram no rio Itaguaí durante o ataque que o vitimou quando andava de barco,e tiveram a tinta borrada. Todos os restantes foram recuperados,e restou aos amigos o trabalho de decifrar sua caligrafia,uma garatuja que era propositalmente apenas para consumo próprio.

O Javari,que o jornalista já conhecia de uma expedição anterior à de sua morte,foi escolhido como o tema de abertura do livro,parcialmente em razão do trabalho que indígenas e ativistas faziam para preservar a região ainda majoritariamente coberta por vegetação nativa. Ele foi,porém,só uma entre dezenas de locais que Phillips visitou em pesquisas para o livro.

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Alguns deles,sobre os quais os escritos se perderam,foram revisitados pelos coautores do livro.

— Nós tínhamos que tentar rastrear os passos dele,fisicamente e intelectualmente — conta Jonathan Watts,editor global de meio ambiente do The Guardian,autor do prefácio e do último capítulo. — Quem ele encoutrou? Por onde ele andou? O que ele observou? Tentamos seguir essa direção. Esse foi o desafio que encaramos para manter a maior parte possível do livro rigorosamente dentro dos planos dele.

Registro de Bruno Pereira e Dom Phillips em Tabatinga,no estado do Amazonas,a caminho do Vale do Javari,em 2018 — Foto: Divulgação/Gary Calton/2018

Em Altamira (PA),por exemplo,Phillips mostrou como funciona a dinâmica de especulação fundiária que move o avanço da pecuária,principal motor de destruição da floresta. Em Novo Progresso (PA),mostrou como um modelo de desenvolvimento perverso coopta populações locais em torno de atividades como o garimpo ilegal e a grilagem.

Em cada um desses lugares,sua intenção não era só olhar para o que estava errado. Iniciativas criativas que ele descreve,muitas ainda embrionárias,se alinham com a proposta de desenvolvimento sustentável na região,na tentativa de desarmar a bomba-relógio da exploração predatória.

Se o título do livro tem um quê de messiânico,Phillips trata de desfazer logo essa impressão,mostrando que a salvação da Amazônia não é um monólito. Ela deverá se assemelhar a uma colcha de retalhos de políticas públicas complexas,com alguns princípios norteadores.

— Quando o Dom contou do projeto do livro para Beto Marubo (líder indígena que assina o posfácio da obra),ele falou: 'Pô,gringo,você está sendo muito prepotente querendo dizer como vai salvar a Amazônia' — conta Sampaio. — Mas o Dom explicou que,além de afirmação afirmação,aquilo era uma pergunta. Ele queria ser essa pessoa que escuta quem está na Amazônia.

O rigor ético de ouvir as populações marginalizadas que lutam para sobreviver,aquelas mais alinhadas à solução para a floresta,seja aquelas mais ligadas aos problemas e à ilegalidade,ao final foi parte daquilo que vitimou Phillips. Ele estava tentando conversar com pescadores que atuavam ilegalmente no rio Javari,quando ele e Pereira foram mortos por um desafeto antigo do indigenista.

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Um dos pilares centrais do livro é o de explicar por que a aceitação de ilegalidades está tão incutida na cultura local. O autor reconhece que grande parte do estímulo para iniciar o livro partiu da visão distorcida da preservação ambiental como "atraso econômico",que permeava o governo do então presidente da República,Jair Bolsonaro.

"Madeireiros,garimpeiros e grileiros se sentiram estimulados pela retórica bolsonarista. Sei disso porque eles próprios me disseram",escreveu. "Achavam que Bolsonaro estava do lado deles e explicaram que haviam votado nele porque ele ia legalizar suas atividades."

Phillips já imaginava que,quando o livro fosse lançado,talvez Bolsonaro já não ocupasse mais a cadeira de presidente. As ameaças à floresta Amazônica,têm uma história de décadas,e ele sabia que elas não cessariam de todo com a posse de um governante menos hostil ao meio ambiente.

O livro sai,não sem esforço,relevante e atual,mesmo quase três anos após sua morte.

Presença indígena

As conversas com lideranças e figuras importantes de comunidades indígenas ocupam um espaço grande na narrativa,em parte por o modo de vida dessas pessoas ser inspiração para a construção de uma economia sustentável. Várias aldeias na região tem sua produção baseada em sistemas como os de integração entre lavoura e extrativismo,que hoje embasam propostas modernas.

E uma razão mais prática garantiu a esses povos originários um bom protagonismo do livro: o as terras indígenas são as áreas onde a floresta é mais preservada na Amazônia,mais até do que nas unidades de conservação de proteção integral.

Num capítulo coassinado por Tom Phillips (correspondente do jornal inglês The Guardian no Brasil) Dom Phillips explora o problema da invasão garimpeira na terra dos Ianomâmi em Roraima. Ele mostra como atividades de produção sustentável promovem também uma ocupação territorial que facilita a vigilância territorial contra invasores.

Num capítulo sobre como os bancos e agências de financiamento pode ajudar a colocar o desenvolvimento da Amazônia no rumo certo,Andrew Fishman,cofundador do site The Intercept Brasil,assina o texto com Phillips. Eles mostra iniciativas que têm dado certo (ou errado),e completa a conexão do livro com a mudança climática global. A emissão de CO2 do desmate,afinal,é problema para o mundo inteiro,não só para os sulamericanos.

À medida que o livro avança,os capítulos se tornam mais obra dos colaboradores do que de Dom,porque as anotações e pesquisas escasseiam. O último capítulo trata de educação ambiental,que o autor enxergava como elemento essencial para catalisar a transformação econômica na Amazônia. Não se sabe muito sobre o que ele pensava do assunto.

— Acho que o Dom ainda tinha muita coisa que estava só na cabeça dele — conta Sampaio — Sobre o último capítulo,ele tinha deixado só o título e anotado uma frase. O Jonathan Watts teve que desenvolver tudo a partir disso,imaginando o que o Don teria pensado.

Se o resultado do livro foi inevitavelmente diferente do que teria sido com Phillips vivo,os amigos afirmam que sua morte lhes onerou com um senso de obrigação.

"Encontrar um jeito de terminar a obra de Dom era,de início,uma maneira de seus íntimos — a família,os amigos,os colegas — lidarem com a dor",escrevem num prefácio coletivo.

— O livro é uma expressão de amor ao Dom por parte de muitas pessoas,é uma expressão de rebeldia contra os assassinos e contra as pessoas que tentam silenciar o jornalismo com violência e é uma mensagem de apoio àqueles que tentam defender a Amazônia e o meio ambiente — diz Watts.

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