2025-03-06
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Obras no Parque da Cidade,que sediará a programação da COP30,em Belém — Foto: Ricardo Stuckert / PR/14-02-2025
GERADO EM: 05/03/2025 - 15:53
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O ano de 2025 será decisivo para o multilateralismo. Os desafios que se apresentam diante de nós —desigualdades crescentes,mudanças climáticas e déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável— são urgentes e estão interconectados. É preciso tomar ações coordenadas e corajosas para abordá-los — e não recuar ao isolamento,a ações unilaterais ou a rupturas.
Três grandes encontros oferecerão uma oportunidade única de estabelecer um caminho em direção a um mundo mais justo,inclusivo e sustentável: a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4),em Sevilha (Espanha); a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC),em Belém (Brasil); e a Cúpula do G20,em Joanesburgo (África do Sul). Essas reuniões não podem ser apenas mais do mesmo. Precisam entregar progressos reais.
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Um momento multilateral que não podemos desperdiçar — A confiança no multilateralismo está sob tensão; e,no entanto,nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global. É preciso reafirmar que o multilateralismo,quando se reveste de ambição e se orienta à ação,continua sendo o veículo mais efetivo para abordar desafios compartilhados e avançar em áreas de interesse comum. Precisamos consolidar os sucessos do multilateralismo,especialmente a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. G20,COP30 e FfD4 devem servir como marcos de um compromisso renovado com a inclusão,o desenvolvimento sustentável e a prosperidade compartilhada. Isso exigirá forte vontade política,plena participação de todos os atores relevantes,mentalidade criativa e a habilidade de compreender os condicionantes e as prioridades de todas as economias.
Abordar a desigualdade por meio de uma arquitetura financeira renovada — As desigualdades de renda vêm aumentando — tanto no âmbito interno das nações como entre elas. Muitos países em desenvolvimento sofrem com o peso insustentável de dívidas,espaços limitados de ação fiscal e barreiras que dificultam o acesso justo ao capital. Serviços básicos,como saúde e educação,têm de competir com taxas de juros crescentes. Trata-se não apenas de uma falha moral,mas de um risco econômico para todos. A arquitetura financeira global precisa ser reformada a fim de dar mais voz e representatividade aos países do Sul Global,assim como acesso mais justo e previsível a recursos.
É preciso avançar nas iniciativas de alívio da dívida,promover mecanismos de financiamento inovadores e identificar e abordar as causas do alto custo do capital para a maioria dos países em desenvolvimento. O G20,sob a presidência da África do Sul,prioriza essas três áreas. Ao mesmo tempo,a reunião do FfD4,em Sevilha,será um momento decisivo para assegurar compromissos em direção a uma cooperação financeira internacional mais robusta para o desenvolvimento sustentável,incluindo o aprimoramento da taxação da riqueza global e externalidades negativas,a melhoria das estratégias de mobilização de recursos domésticos e a canalização mais impactante e efetiva dos Direitos Especiais de Saque.
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Financiar transições justas em direção a um desenvolvimento limpo com resiliência climática — Para muitos países em desenvolvimento,uma transição climática justa permanece fora de alcance devido à falta de fundos e a desafios ao desenvolvimento. Isso precisa mudar. Na COP30,em Belém,uma cúpula realizada no coração da Amazônia,será preciso assegurar que nossos compromissos de financiamento climático sejam traduzidos em ações concretas.
O sucesso da COP30 dependerá da nossa capacidade de reduzir a distância entre promessas e resultados. Sob a convenção da mudança do clima,os pilares fundamentais para a COP30 incluirão a submissão,por todas as partes,de novas e ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o Roteiro Baku-Belém,que estabelece o aumento do financiamento da ação climática aos países em desenvolvimento,de todas as fontes públicas e privadas,para ao menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035. Precisamos aumentar significativamente o financiamento para a adaptação climática,alavancar os investimentos do setor privado e assegurar que os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento assumam papel mais relevante no financiamento climático. A conferência de Sevilha complementará esses esforços,assegurando que o financiamento climático não prejudique o desenvolvimento.
Uma resposta global e inclusiva às ameaças globais — O mundo está cada vez mais fragmentado,e é exatamente por essa razão que devemos redobrar os esforços para encontrar uma base comum. Joanesburgo,Belém e Sevilha precisam servir como bastiões da cooperação multilateral,demonstrando que as nações são capazes de se unir em torno de interesses comuns.
Em Sevilha,trabalharemos no sentido de mobilizar capital público e privado para o desenvolvimento sustentável,reconhecendo a inseparável relação entre estabilidade financeira e ação climática. Em Joanesburgo,o G20 reafirmará a importância de um crescimento econômico inclusivo. E,estaremos lado a lado para proteger nosso planeta.
Ao vislumbrarmos 2025,conclamamos todas as nações,instituições internacionais,setor privado e sociedade civil a se colocarem à altura deste momento. O multilateralismo é capaz e precisa gerar resultados— porque os riscos são muito altos para permitirmos o fracasso.
Luiz Inácio Lula da Silva é presidente do Brasil; Cyril Ramaphosa é presidente da África do Sul; Pedro Sánchez é presidente do governo da Espanha