Policiais civis entram na casa de Peixão: Estrela de Davi,símbolo da quadrilha,na piscina — Foto: Reprodução

RESUMO

GERADO EM: 13/02/2025 - 00:22

Operação policial falha em capturar chefe do tráfico Peixão

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As imagens feitas com exclusividade pelo GLOBO na favela de Parada de Lucas,na Zona Norte do Rio,não deixam dúvidas: os agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) tinham um único alvo: Álvaro Malaquias Santa Rosa,o Peixão,chefe do Complexo de Israel. No entanto,mesmo com o reforço de dezenas de agentes lotados em delegacias da capital,as tropas de elite das duas polícias não conseguiram chegar ao bunker do criminoso a tempo de prendê-lo — uma mansão com piscina —,e Peixão escapou mais uma vez.

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A operação ocorreu por volta de 13h30 desta quarta-feira (12/02),quando dois helicópteros,um da Polícia Civil e outro da Polícia Militar,sobrevoaram o Complexo de Israel,formado principalmente pelas favelas de Parada de Lucas,Vigário Geral e Cidade Alta,na Zona Norte do Rio. A ação foi organizada às pressas,após informações de que o chefe da facção estaria escondido em uma casa na favela de Parada de Lucas. Como Peixão é o criminoso mais procurado do Rio,temido pelo terror que impõe tanto nas comunidades sob seu domínio quanto nas vias expressas que margeiam essas favelas,as polícias viram ali uma oportunidade de capturá-lo.

Polícia chega à mansão do traficante Peixão,em Parada de Lucas,na Zona Norte — Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Para evitar que motoristas e pedestres fossem atingidos por balas perdidas na Avenida Brasil e na Linha Vermelha,as vias foram interditadas. Mesmo assim,dezenas de veículos já estavam em circulação e ficaram no meio do fogo cruzado. Passageiros e motoristas registraram o desespero e relataram o tiroteio nas redes sociais.

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Pouco depois,os helicópteros passaram a sobrevoar exclusivamente a favela de Parada de Lucas,indicando aos agentes em solo o melhor caminho para alcançar o esconderijo de Peixão. No entanto,para dificultar a entrada das aeronaves,criminosos sustentaram um intenso tiroteio. Embora apenas a Polícia Militar tenha admitido que seu helicóptero foi atingido,fontes da Polícia Civil confirmaram que a aeronave da corporação também foi alvejada. O helicóptero da PM precisou realizar um pouso de emergência no Comando Naval da Marinha,próximo à favela de Parada de Lucas.

Piscina,área de lazer e Estrela de Davi: polícia chega à casa de Peixão

Apesar de as aeronaves possuírem seguro — um dos mais caros do país —,ambas terão que passar por perícia e não devem voltar a operar tão cedo. O mesmo ocorre com o "Sapão",o primeiro helicóptero da Polícia Civil,também conhecido como "caveirão do ar". O modelo Bell Huey,utilizado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã,está fora de serviço devido a disparos recebidos anteriormente.

Piscina,área de lazer e Estrela de Davi: polícia chega à mansão do traficante Peixão; veja imagens

Sem o suporte aéreo,os agentes precisaram entrar na favela de Parada de Lucas pela Avenida Brasil,enfrentando uma série de obstáculos. Primeiro,passaram por dois fossos,cavados no estilo medieval para impedir o avanço dos blindados da polícia. Além disso,uma nova vala estava em construção,o que indica que Peixão estaria reforçando as barreiras para atrasar as forças de segurança e aumentar suas chances de fuga. Também havia duas cancelas gigantescas com cadeados,mais um obstáculo para impedir o avanço dos agentes.

Um dos fossos,em construção,para dificultar a entrada dos blindados das polícia ao esconderijo de Peixão — Foto: Domingos Peixoto

Além das barreiras físicas,os policiais ainda enfrentaram artilharia pesada,com fuzis e granadas. O confronto transformou o cenário em uma verdadeira zona de guerra,tanto no asfalto quanto na casa do criminoso. Como as forças de segurança só conseguiram chegar ao esconderijo mais de uma hora depois,Peixão conseguiu escapar,provavelmente pelos fundos da mansão,que dá acesso a um mangue. A frustração dos agentes era evidente.

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No fim da tarde,o Palácio Guanabara,sede do governo do estado,anunciou uma coletiva de imprensa com os secretários de Segurança,Victor dos Santos,e das Polícias Civil e Militar,Felipe Curi e Marcelo Menezes e Felipe,respectivamente. O objetivo era apresentar,oficialmente,a justificativa para a operação. No entanto,a explicação dada pelas autoridades não convenceu: segundo elas,a ação policial tinha como principal objetivo "evitar um banho de sangue".

Estojos deflagrados numa das ruas que dá acesso à mansão de Peixão,o que comprova o intenso tiroteio em Parada de Lucas — Foto: Domingos Peixoto

Por meio de nota,o próprio governador Cláudio Castro reforçou a versão: "dados do setor de inteligência das polícias identificaram a movimentação de criminosos na região de Parada de Lucas com o objetivo de invadir a comunidade do Quitungo,em Brás de Pina,área dominada por outra facção criminosa".

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Durante a coletiva,o secretário de Polícia Civil afirmou que o Terceiro Comando Puro (TCP) planejava invadir o Quitungo,aproveitando uma suposta vulnerabilidade do Comando Vermelho (CV),após a prisão de um suspeito e a interdição de dois galpões na favela.

Ação para prender Peixão ocorreu durante entrada e saída de crianças de escola,em Parada de Lucas — Foto: Domingos Peixoto

No entanto,ao fim da coletiva,ninguém admitiu que Peixão escapou novamente.

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Em outubro do ano passado,três pessoas foram mortas em três vias expressas diferentes — Avenida Brasil,Linha Vermelha e Rodovia Washington Luiz —,todas próximas às favelas do Complexo de Israel. Na época,o secretário Victor dos Santos classificou a ação como um ato de terrorismo,atribuindo a Peixão a ordem para que seus comparsas atirassem contra as rodovias. As vítimas foram os motoristas Paulo Roberto de Souza e Geneílson Eustáquio Ribeiro,além do passageiro Renato Oliveira,que dormia num ônibus indo para o trabalho.

Peixão tem mais de 70 anotações criminais e nunca foi preso. Ele já foi condenado por tráfico de drogas e ainda tem processos por homicídios,organização criminosa e intolerância religiosa,principalmente por religiões de matriz africana.