2025-02-12
IDOPRESS
Vivian Lee: diretora médica daTakeda — Foto: Divulgação
GERADO EM: 11/02/2025 - 20:38
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Neste 2025,o Brasil entra no segundo ano de oferecimento da vacina contra a dengue da Takeda,a chamada QDenga. Com 9 milhões de doses a serem distribuídas neste ano,um volume ainda inferior à necessidade do país,a farmacêutica está de olho no Brasil para a ampliação dos estudos da vacina nos idosos (atualmente ela aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária,a Anvisa,para pessoas até 60 anos) e observa com cautela a dificuldade do país em atingir altos patamares de imunização também para a segunda dose em crianças e adolescentes. Enquanto isso,mais estudos internacionais podem ajudar a desenhar como será o futuro do imunizante,considerando um cenário onde há mais prevalência dos sorotipos 3 e 4 da dengue,até então menos comuns,e a necessidade de reforços daqui alguns anos.
Ao GLOBO,a diretora médica da farmacêutica no Brasil,Vivian Lee,fala sobre todos esses temas,do foco da distribuição ao SUS e de outras apostas da empresa,que inclui um tipo de tratamento que cria imunidade aos celíacos frente ao glúten. Confira os principais trechos da entrevista:
Quando teremos indicativos para o uso da vacina nos pacientes de mais de 60 anos?
Nossa vacina foi aprovada para indivíduos de 4 a 60 anos de idade para prevenção da dengue nos quatro sorotipos. É uma vacina aprovada pela European Medicines Agency (EMA),então já tem aprovação em 42 países e já utilizada em 28. O EMA,por exemplo,aprovou nossa vacina para pessoas acima de 4 anos,sem limite de idade. Outros países,o que incluí a Argentina,também (fizeram da mesma forma). Nós,porém,sempre reforçamos que temos que seguir o que a nossa agência reguladora aprovou. Então estamos na fase de avaliação de um estudo,desenhando protocolos,escolhendo centros. Será um estudo internacional e o Brasil será incluído. Ainda não temos datas específicas para quando começar e terminar,mas não deve ser algo longo.
O que sabemos sobre necessidade de reforço,eventuais terceira e quarta dose?
Isso é parte de outro estudo que devemos apresentar em alguns meses. A vacina,depois de 4 anos e meio de estudo,teve uma eficácia que praticamente se manteve considerando a hospitalização. Na redução de casos houve uma perda um pouco maior (da proteção). Continuamos com mais dois anos de acompanhamento,o que totalizará seis anos de análise. Nesta avaliação,uma parte dos participantes,adolescentes de ate 11 anos de idade,receberam um booster (reforço),o que estamos avaliando se será necessário ou não. Ainda há de se avaliar os dados do uso da vacina na pesquisa realizada em Dourados,no Mato Grosso do Sul,que considera a aplicação da vacina em mundo real.
Quem tomou apenas uma dose não está protegido,correto?
Exatamente. Nós oferecemos no ano passado o número de 6,6 milhões de doses. Neste ano,temos o compromisso de 9 milhões. O Ministério,considerando a leva do ano passado,já distribuiu praticamente tudo para as UBS. Há aproximadamente 3 milhões de pessoas com a primeira dose. Só que a segunda aplicação está bem mais abaixo,com 1,1 milhão de pessoas. Nosso grande objetivo é oferecer a informação adequada,esclarecendo,evitando fake news,mostrando que a vacina é eficaz,demonstrando segurança. Com a primeira e com a segunda dose.
Agora estamos vendo a entrada forte do sorotipo 3 no Brasil. Um sorotipo que não circulava no país há muito tempo. Podemos ter plena segurança de que a vacina funcionará nesse cenário?
A nossa vacina é aprovada como tetravalente. Isso quer dizer que ela produz anticorpos,imunidade celular,contra os quatro sorotipos do vírus. A proteção é geral,os resultados e que inclusive já mencionei,são para os quatro sorotipos de vírus. Fizemos análises exploratórias (secundárias),quando terminaram os quatro anos e meio (do tempo de pesquisa),que ajudam a gente a avaliar hipóteses e até fazer estudos futuros,se necessário. Nessa análises,foram separados indivíduos que já tiveram dengue e indivíduos que nunca tiveram dengue e que receberam a vacina. Para quem já teve dengue,a análise exploratória mostrou proteção para os 4 sorotipos. Para quem não teve,mostrou eficácia para os sorotipos 1 e 2,não mostrou no 3 e no 4 não teve casos suficientes para saber (se havia eficácia). Só que dizemos que,na maioria dos casos,e como as pessoas estão ficando cada vez mais infectadas,teremos uma população cada vez maior de soropositivos e a vacina vai mostrando sua eficácia.
Há algum estudo em andamento para atualização da vacina,considerando esse sorotipo 3,que tem se mostrado mais prevalente?
No momento não,mas vamos começar um outro estudo,na Ásia,onde há mais sorotipos 3 e 4. Nesses lugares,dentro de um acordo que fizemos com o EMA,vamos avaliar eficácia e segurança. Porque aí vamos ter uma população maior. O estudo terá 70 mil pessoas. Pode inclusive que o resultado seja diferente do que temos nessa análise exploratória até agora.
Como está o desenvolvimento da parceria com a Fiocruz?
A Fiocruz mandou uma proposta de desenvolvimento produtivo (da vacina QDenga) para o Ministério da saúde no final de setembro do ano passado. Estamos aguardando. A Fiocruz nos pediu informações,dados,e enviamos para eles a fim de submeter a proposta.
Existe um cálculo de quando a vacinação poderá mudar o cenário da dengue no Brasil?
Alguns especialistas até chegam a calcular um percentual. Temos hoje um contrato de dois anos com o Brasil,para 2024 e 2025. Claro,vamos voltar ao trabalho de negociação para que sigamos com a vacinação. A chegada do Butantan (com sua vacina para dengue) será muito bem-vinda. Essa coexistência é favorável que exista,e a Takeda vai continuar. Nosso foco é o mercado público,o Sistema Único de Saúde e,conforme for tendo mais vacina,a gente vai focar também no privado.
O Brasil contratou o máximo de doses que era possível?
Exatamente. De produção,de distribuição e (considerando) o orçamento do governo. Foi o máximo e foi um trabalho muito grande do país e da Takeda Brasil,mostrando a importância do país. A Tailândia também estava interessada,inclusive,em ter esse estudo em vida real do uso da vacina que estamos fazendo em Dourados,no Mato Grosso do Sul.
É sabido que neste ano também faltam vacinas para o setor privado. Tem alguma previsão para as clínicas receberem mais doses?
Já mencionamos que o foco é o Sistema Único de Saúde (SUS)e isso permanece nesse ano. Vamos aumentando conforme possível,de acordo com nossa produção for ampliando.
A empresa também tem medicamentos para oncologia. Há alguma movimentação nesse sentido?
Em 2026 vamos lançar um medicamento para câncer colorretal metastático que tem aumentando,para fases mais avançadas. Também temos outro medicamento para anemias causadas por um câncer nas células hemácias. Outro desenvolvimento muito interessante,em outra área,ainda está bem no início é para a doença celíaca. Estamos fortes no desenvolvimento de uma enzima para quebrar o glúten. Parece até mesmo uma vacina,ela é uma nanopartícula que tem a proteína do glúten lá dentro,funciona como uma imunoterapia e deverá ser injetada a cada 3 meses. E aí o organismo cria imunidade. Além disso,temos 18 medicamentos para doenças raras. Somos muito fortes nisso e estamos sempre de olho em acesso desses medicamentos.
O que podemos falar do uso indiscriminado do Venvanse? Medicamento de vocês para TDAH usado de maneira irregular por algumas pessoas para aumentar o foco no trabalho?
A Takeda rechaça totalmente esse uso indiscriminado e off-label (nome que se dá quando o medicamento é usado fora do indicativo da bula). Quando há esse uso totalmente errado,alguns pais ficam preocupados e deixam de tratar as crianças e adolescentes por causa disso. Temos rechaçado isso não só nos eventos médicos,mas também em qualquer encontro científico e das entidades. Exaltamos todos os prejuízos desse uso off-label. Também reforçamos muito isso na mídia. Temos que falar muito do combate à informação,fake news e das informações equivocadas.