2025-01-22 HaiPress
William McKinley assumiu governo em 1897 — Foto: Arquivo
GERADO EM: 21/01/2025 - 21:55
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Por causa do frio,a posse de Donald Trump aconteceu na Rotunda do Capitólio. Má ideia. De certa maneira,foi uma revanche. No 6 de janeiro de 2021 aquele lugar foi invadido pela turma que queria melar a vitória eleitoral de Joe Biden. Cenograficamente,é um lugar bonito. Fica embaixo da cúpula dos cartões-postais. Em seu espaço circular estão estátuas de notáveis da História americana. Em 1876,Dom Pedro II lá esteve e definiu-o:
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— Fui ver o Capitólio. Aspecto majestosíssimo. Agradou-me muito o todo da arquitetura. Tudo o que é escultura é medíocre.
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O mundo teve de aturar a mediocridade das esculturas da Rotunda.
Trump assumiu resgatando a memória de William McKinley (1897-1901) e devolveu-lhe a denominação da montanha mais alta dos Estados Unidos,cassada em 2015.
Não é retórica. Trump promete o início de tempos dourados. McKinley governou no auge de uma era folheada a ouro. Em seu primeiro mandato,o PIB americano cresceu a taxas inéditas. Àquela época,a U.S. Steel era maior que o governo federal. (Em 2025,faltou pouco para que a U.S. Steel fosse absorvida pela japonesa Nippon Steel.)
Trump quer retomar o Canal do Panamá,McKinley anexou o Havaí e,depois de expulsar os espanhóis,transformou Cuba,Porto Rico e Filipinas em protetorados americanos. Trump promete protecionismo,McKinley elevou as tarifas de importação.
Passado mais de um século,a Presidência de McKinley é vista como apogeu dos endinheirados. Os homens mais ricos dos Estados Unidos — John D. Rockefeller e Andrew Carnegie — cacifavam-no. (Ambos haviam saído do nada.) Nenhum dos dois foi à posse de McKinley,mas Elon Musk,o homem mais rico do mundo,não só estava em Washington,como faz parte do governo e quer um cantinho na Casa Branca.
Quando Trump diz que o Golfo do México se chamará Golfo da América,repete a rainha Vitória (1819-1901),que se desentendeu com o ditador da Bolívia e mandou tirar o país do mapa que tinha no palácio. Botar uma bandeira em Marte? Tudo bem,melhor ainda se ela for levada num foguete de Musk. Noves fora o teatro,Trump saiu do Acordo de Paris,apertou o ferrolho da imigração e certamente elevará as tarifas das importações. Assumiu com uma vitalidade que faltava a Joe Biden e antecipou uma Presidência menos sonolenta,mas McKinley ele nunca será.
Trump disse que a América Latina e o Brasil “precisam mais de nós do que nós precisamos deles”. Até aí,ele pode até estar certo. Os regimes de Cuba e da Venezuela viverão anos amargos,mas o Brasil e a América Latina não precisam dos Estados Unidos tanto quanto ele pensa.
Em 1896,quando McKinley tinha um pé na Casa Branca,o barão do Rio Branco escrevia a um amigo:
— Eu prefiro que o Brasil estreite as suas relações com a Europa a vê-lo lançar-se nos braços dos Estados Unidos.
Em 1896 a China estava humilhada e subjugada pelas potências da época. Conta a lenda que,num parque de Xangai,havia uma placa inglesa informando que estava proibida a entrada de “cachorros e chineses”. Em 2025,o ano pode fechar com Pequim chegando a um superávit comercial de US$ 1 trilhão.