2025-01-15 HaiPress
Psicóloga explica como nossos pensamentos podem afetar nossas emoções — Foto: Freepik
GERADO EM: 14/01/2025 - 14:12
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No tumulto da vida moderna,há um cantinho ao qual todos recorrem,embora nem sempre de forma consciente: a mente. Nesse espaço invisível se desenvolvem conversas que definem o que acontece e o que não acontece. Diálogos unipessoais,silenciosos e constantes,que podem motivar,questionar ou até sabotar quem os cria,coordena e protagoniza.
Pode-se decidir a forma como nos falamos e,por consequência,a maneira como pensamos? No contexto do ciclo de palestras organizadas pelo BBVA,Aprendemos Juntos,Alba Cardalda,neuropsicóloga e autora dos livros Como deixar de ser seu pior inimigo,compartilhou observações e reflexões sobre esse universo interno,imenso e fascinante ao mesmo tempo,convidando sua audiência a uma melhor compreensão da comunicação que,inevitavelmente,cada um mantém diariamente consigo mesmo.
— Graças à neurociência,hoje sabemos que existem diferentes tipos de diálogo interno e que cada um tem uma função distinta — comenta Cardalda,fazendo referência a seis tipos de diálogos internos que ocorrem na mente: o diálogo de identidade própria,o diálogo motivacional,o diálogo instrucional,o diálogo dissociativo,o diálogo social e o diálogo compulsivo.
A especialista em terapia cognitivo-comportamental sustenta que o diálogo interno tem grande impacto,não só na percepção própria,mas também no manejo do estresse e das emoções de modo geral; e que,praticado de maneira consciente,é uma ferramenta poderosa para regular estados emocionais.
É um tipo de diálogo reflexivo que se concentra em questionamentos profundos como “quem somos?”,“por que estamos aqui?” ou “qual é o sentido de nossa vida?”. Segundo Cardalda,os psicólogos costumam estimular esse tipo de introspecção,uma vez que se trata de questões existenciais cujas respostas têm grande valor para a saúde mental individual.
Descrito por Cardalda como o “melhor dos diálogos”,o diálogo motivacional impulsiona a pessoa a se equilibrar emocionalmente quando se sente um pouco alterada,estressada,triste ou nervosa.
— É o que usaríamos em uma situação de tensão,repetindo para nós mesmos que estamos capacitados para fazer o que estamos fazendo — indica.
Exemplos de frases características desse tipo de diálogo são: “calma,você consegue fazer isso”,“passo a passo,com calma vai dar certo” ou “você se preparou para isso,relaxe”.
De caráter imperativo e metódico,o diálogo instrucional identifica,ordena e comanda os passos necessários para realizar processos complexos.
— Quando aprendemos algo novo,como equações matemáticas,por exemplo,esse tipo de diálogo nos ajuda a lembrar passos específicos e a nos organizar para alcançar a meta — explica a terapeuta. — Ele nos dá instruções para podermos avançar de forma eficaz.
Em quarto lugar,Cardalda coloca o diálogo dissociativo como uma espécie de debate interno em que diferentes “vozes” expressam posturas opostas. Trata-se de uma dinâmica que ocorre,geralmente,quando há a necessidade de tomar decisões importantes,como mudar de emprego ou enfrentar uma mudança significativa na vida.
— É muito divertido — admite a palestrante. — Porque é uma conversa que temos conosco mesmos,mas parece que a temos com muitas pessoas ao mesmo tempo.
Para aprofundar sobre o mecanismo de ativação do chamado diálogo dissociativo,Cardalda se aprofunda no exemplo da mudança de trabalho:
— De um lado,temos a voz da segurança,que reconhece o conforto do salário,de saber o que está fazendo e com quem compartilha o espaço de trabalho. Por outro,aparece uma voz mais intrépida e rebelde — indica.
Esta última,continua,questiona a existência de uma vocação real,ameaça com o tédio eterno e,em muitos aspectos,revela a possibilidade de uma vida infeliz por não se atrever a correr o risco.
— Essas duas vozinhas que se debatem são facetas diferentes de nossa própria personalidade,e ouvi-las nos permite nos conhecer profundamente: saber quais são nossos medos,desejos,sonhos e anseios. Nos dissociamos dentro de nós mesmos — explica.
O diálogo social consiste em imaginar ou recriar conversas com outras pessoas. Pode acontecer ao antecipar uma entrevista de emprego ou refletir sobre o que poderia ter sido respondido em uma situação passada. — Todos nós já tivemos isso em algum momento,ao recriar conversas em nosso cérebro; conversas que poderíamos ter tido,que poderiam ter saído melhor.
Por fim,considerado por Cardalda como o “mais problemático”,o diálogo compulsivo é aquele marcado pela ruminação excessiva: os “e se...?” e a tendência a sobreanalisar situações. Cardalda enfatiza a importância de aprender a redirecionar ou silenciar essa voz interna para evitar o esgotamento emocional.
— Esta é a voz do nosso pior inimigo. Quanto antes aprendermos a controlá-la ou silenciá-la,melhor — conclui.