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Ilegal, e daí?: paraíso da beleza e do caos, Avenida Atlântica, em Copacabana, é palco de grandes eventos, mas também de desordem

2025-01-13 IDOPRESS

Veículo faz entrega de mercadoria para um quiosque no Posto 2 da Avenida Atlântica em horário e local proibidos — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 12/01/2025 - 22:36

Desafios urbanos em Copacabana: caos e ilegalidade na Avenida Atlântica.

A Avenida Atlântica,em Copacabana,é palco de eventos e caos. Carga ilegal,moradores de rua,flanelinhas e desordem persistem. A prefeitura atua,mas problemas urbanos como descargas irregulares e ocupação de vagas desafiam autoridades e moradores locais. O desafio é manter a ordem e combater a ilegalidade na região icônica do Rio de Janeiro.

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Quinta-feira,9 de janeiro. Mesmo com céu nublado e até breves pancadas de chuva,o movimento segue firme na Avenida Atlântica,na famosa orla de Copacabana e do Leme. Considerada vitrine do Rio e do país,a via que encanta e atrai cariocas e visitantes com sua beleza e seus grandes eventos,também é atravessada por problemas que se perpetuam. Quem circula por esse paraíso esbarra muitas vezes com o caos,mesmo diante das ações realizadas diariamente pela prefeitura.

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A desordem no caminho do mar inclui carga e descarga em locais e horários proibidos,população de rua,camelôs irregulares,vagas do Rio Rotativo controladas por flanelinhas ou ocupadas por veículos de vendedores de quentinhas e usadas como depósito onde ambulantes e barranqueiros estocam seus produtos. Sem falar no assédio de vendedores de pacotes turísticos e até por quem não se intimida em oferecer abertamente droga aos transeuntes.

— Marijuana,marijuana — grita um homem no calçadão junto à areia quase em frente à Rua Figueiredo Magalhães,por volta de 10h30,tentando atrair interessados na droga.

Descarga: desrespeito

Veículo faz entrega de gelo para um quiosque na altura da Rua Figueiredo Magalhães — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Mas são os problemas de ordem urbana que saltam aos olhos. Em apenas 16 minutos — das 9h32 às 9h48 — cinco veículos com placas pouco legíveis foram flagrados descarregando mercadorias para quiosques em horário e locais proibidos: um caminhão de gelo,nas proximidades da Rua Miguel Lemos; duas vans com mantimentos,perto da Rua Siqueira Campos; uma van frigorífica,nas imediações da Rua Duvivier; e um automóvel,com laranjas e bananas,na direção da Rua Antônio Vieira. Todos estavam na pista sentido Leme.

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Tal comportamento tem provocado engarrafamentos diários. Segundo a CET-Rio,resolução de 2013 autoriza parar na orla apenas das 22h às 6h. Um parágrafo da mesma legislação cria excepcionalidade para veículos que transportam gelo “em locais e horários regulamentados e delimitados pela sinalização existente”. A companhia afirma,no entanto,que portaria de 2023,fixa oito trechos — em baias,não na pista — onde veículos de carga,não apenas de transporte de gelo,podem estacionar,em determinados horários.

— Esse pessoal de entrega faz o que quer,no horário que for,atrapalha o trânsito,e os motoristas que aturem. A partir de 10h,11h,já sem a reversível,o trânsito piora — lamenta a contadora Ana Lemos,moradora de Copacabana.

A fila dupla e o uso irregular de vagas de estacionamento do Rio Rotativo,além da presença de flanelinhas,misturados com guardadores oficiais,são outras críticas de quem mora na região. Na manhã de quinta-feira,por volta de 11h,havia quatro caminhões,sem motorista e sem talões,estacionados,entre as ruas Djalma Ulrich e Almirante Gonçalves (o quarteirão não consta entre os destinados à carga e descarga pela portaria de 2023),guardando mercadorias para uma feira que só começa às 17h. Mais tarde,às 19h,havia nove.

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E a desocupação do espaço destinado a vagas rotativas não tem hora nem dia para acabar,conta um porteiro do Edifício Achcar,que prefere não ser identificado:

— Eles ficam aqui eternamente. Muitos moram longe. Então,aproveitam até para dormir no caminhão. A feira é legal,traz movimento,mas isso que eles estão fazendo é horrível. Fizeram das vagas de estacionamento um depósito e até mesmo uma moradia.

Na manhã de quinta-feira,dia 9 de janeiro,um automóvel descarrega laranjas e bananas nas proximidades da Rua Antônio Vieira — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Pouco depois das 19h,um feirante foi flagrado ainda colocando cones e caixotes para fechar uma parte da via,conseguindo,assim,guardar as mercadorias dentro de uma caminhonete parada irregularmente. Em outro ponto de feira,entre as ruas Belford Roxo e Ronald de Carvalho,moradores relatam que o cenário de desordem não é diferente. O psicólogo Renan Dias explica que,desde as festas de fim de ano,barracas de camelô,que se agregaram à feira,têm atrapalhado a entrada e a saída nos condomínios:

— Nos dias de feira,nos fins de semana e às segundas-feiras,todas as vagas ficam ocupadas por vans e caminhões,dia e noite. Mais grave é um bar temporário que montaram na calçada,no fim do ano passado,junto da feira,que foi se deslocando para perto dos prédios,Desde então,passamos a ter dificuldade para chegar em casa. A feira é positiva; porém é preciso ter ordem.

Tumulto no trânsito na orla de Copacabana provocado pela carga e descarga irregular,no último dia 4 — Foto: Domingos Peixoto/04-01-2025

A venda de quentinhas também é feita na mala de carros estacionados nas vagas. Entre 11h e 13h da última quinta-feira havia pelo menos 12 ao longo da Atlântica,oferecendo marmitas por preços que vão de R$ 11,99 a R$ 15. Nos cartazes,vendedores informam que aceitam dinheiro,cartão e Pix. E há quem ofereça comida por R$ 15,incluindo uma bebida.

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Na orla,um dia antes,na quarta-feira,dia 8 de janeiro,por volta das 13h,em meio a pedestres que caminhavam pelo calçadão,uma fileira de camelôs,com os mais diversos produtos,se posicionava para abordar os possíveis clientes. Quem passava por ali lutava para se desviar deles. Venda de roupas,óculos,cangas,lembrancinhas e barraquinhas de comida eram algumas das opções encontradas. A engenheira Andressa Furtado,de 38 anos,que mora no bairro há 15 anos,nota que o número de ambulantes aumentou desde a pandemia:

— Passei a caminhar na orla para melhorar meu estilo de vida,mas às vezes a gente fica até maluco com a quantidade de informações que recebe. É entregador descarregando mercadoria,é camelô querendo vender,é barraqueiro passando com um bando de cadeiras..... A gente fica refém de se desviar de tudo isso.

Caminhões que servem de depósito,sem talão de estacionamento,estacionados no trecho entre as ruas Djalma Ulrich e Almirante Gonçalves — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Assim como Andressa,a estudante Thaís Carvalho,de 22 anos,desabafa sobre a dificuldade que tem muitas vezes de se deslocar em trechos de calçadas:

— Os camelôs montam fileiras de barracas nas calçadas. Fica até mais fácil passar no meio dos carros,porque é muita confusão.

Nos arredores,há reclamações ainda sobre congestionamento nas vias adjacentes e estacionamento irregular de ônibus de turismo. A Rua Gustavo Sampaio,de acordo com moradores,é uma das mais afetadas. Nos fins de semana,quando o fluxo de pessoas é maior,é preciso ter paciência para percorrer um trecho de cerca de 1,5 quilômetro. Para o contador Paulo Fernandes,de 51 anos,uma solução seria mudar a mão da via:

— É só aparecer o sol para isso aqui ficar um caos. Parece inacreditável,mas,quando é assim,demoramos pelo menos 45 minutos para atravessar. Uma vez cheguei a demorar 1h30. Fora isso,muita gente não respeita a sinalização. Ainda durante a semana vemos vários ônibus de turismo que ignoram as regras e param por aqui. Acho que o ideal era mudar a mão da rua,pelo menos aos fins de semana.

Venda de quentinhas na altura do Posto 4 — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Cartaz em inglês para pedir esmola

Moradores de rua são mais uma questão insolúvel. Trechos com árvores e laterais de postos de salvamento são pontos preferidos por quem busca um canto para ficar,com barracas ou ao relento. Andreza Maria da Silva,de 48 anos,conta que está dormindo na areia,perto do Copacabana Palace,desde o Natal,quando saiu da Caxias,onde também vivia na rua.

— Minha filha morreu,não tenho ninguém e não encontro trabalho — justifica ela,que coloca um papelão em inglês pedindo esmolas,no qual informa que precisa de ajuda e que está passando fome. — Foi uma amiga que sabe inglês que escreveu para mim. É que Copacabana tem muito gringo. Aí,eles podem me ajudar.

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Com casa no lixão de Caxias,dois casais estão morando sob árvores na areia,perto do Lido. Com eles,formando uma família improvisada,se integrou Carlos Heitor Araújo,que saiu da casa dos pais,em Cachoeiras de Macacu,em busca de dinheiro.

Roberto Magalhães,de 35 anos,vive ali,com a esposa e três filhos,de 1,4 e 5 anos.

— Minha mulher e os dois mais velhos estão vendendo bala. E eu fico tomando conta da menor. Depois,vou sair para catar latinha — relata a rotina da família.

A família improvisada é composta ainda por Marlene dos Santos,de 41 anos,e Adalto dos Reis,de 32.

— Tenho dois filhos,que estão com o pai deles. Meu marido tem três,que estão com a ex-mulher dele — conta Marlene.

Moradores de rua na orla de Copacabana — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

"Refazer o ilícito"

Para Horácio Magalhães,presidente da Sociedade Amigos de Copacabana,os problemas na orla de Copacabana são crônicos. Magalhães destaca que,apesar da atuação da prefeitura,as mesmas questões seguem se repetindo,ano após ano,por falta de um trabalho de inteligência.

— É algo crônico. Todo dia o trânsito é atrapalhado por essa descarga irregular e por camelôs. Não podemos dizer que não tem atuação do poder público. Só que fica num jogo de gato e rato. Os vendedores guardam tudo quando percebem que os guardas estão chegando. Aí,eles saem e começam tudo de novo. Falta trabalho de inteligência — pontua Magalhães.

Família improvisada mora sob árvores na areia,perto do Lido — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

Presidente da Associação de Moradores de Copacabana,Tony Teixeira também destaca que a prefeitura tem enxugado gelo:

Caminhonete parada em frente à feira do Posto 5 ocupa trecho da via — Foto: Agência O Globo

— A capacidade que as pessoas têm de refazer o ilícito é surreal. Os fiscais tiram,por exemplo,camelôs e eles no dia seguinte estão no mesmo local com outras mercadorias.

Para Teixeira,é preciso haver dispositivos legais que permitam punir mais severamente os reincidentes. Ele defende ainda a mudança da legislação federal que não permite,o recolhimento do morador de rua contra a vontade dele:

— O poder municipal acaba travado.

Por e-mail,a prefeitura apresenta seus números. Garante que realiza ações e operações de ordenamento diárias na Avenida Atlântica. Informa ainda que,desde janeiro de 2024,a Secretaria de Ordem Pública (Seop) e a Guarda Municipal apreenderam mais de 70 mil materiais de ambulantes irregulares,incluindo garrafas de vidro,botijões de gás e bicicletas elétricas. Em ações com foco na desobstrução de área pública e ordenamento de pessoas em situação de rua,diz,foram apreendidos 450 facas e objetos perfurocortantes,além de 193 materiais para consumo de drogas,e descartadas mais de dez toneladas de materiais deixados em calçadas.

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Também foram aplicadas 104 multas e removidos 51 veículos por realizarem carga e descarga de forma irregular. Foram aplicadas 223 multas aos veículos que atuam como depósitos nas vagas do Rio Rotativo,e 80 foram removidos. No combate ao exercício ilegal de guardadores de carros,agentes da Seop conduziram à delegacia 32 flanelinhas e apreenderam 44 coletes e 44 estruturas utilizadas por guardadores ilegais. Quanto à venda de quentinhas,em um ano foram apreendidas mais de 800 na praia de Copacabana. Já a Secretaria de Assistência Social realizou,no mês passado,1.069 atendimentos e 167 acolhimentos institucionais na região de Copacabana,incluindo a orla.

Agentes da Seop atuando na orla de Copacabana — Foto: Divulgação/Seop

O secretário Brenno Carnevale,titular da Seop,cita as dificuldades que enfrenta para conseguir manter a ordem na Avenida Atlântica,enfatizando que pessoas insistem em descumprir as regras e testam os limites da fiscalização. Ele pede a colaboração da população,para que não fomente o mercado ilegal.

— A prefeitura tem uma capacidade,que não é infinita — argumenta ele,acrescentando que está buscando outras formas de combater a ilegalidade: — Não descarto aumentar o número de agentes nas ruas,nem melhorar os protocolos de atuação. Estamos buscando um novo formato de ocupação com equipes baseadas em determinados pontos. Mas,inevitavelmente,estamos correndo atrás.

Agentes da Seop atuando na orla de Copacabana — Foto: Divulgação/Seop

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