2024-09-22 HaiPress
João Victor Newlands e Júlia Cruz se conheceram no grupo de corrida e começaram a namorar — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
GERADO EM: 22/09/2024 - 03:30
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A gestora comercial Júlia Cruz,de 33 anos,corria há quase um ano quando decidiu se inscrever no grupo Filhos do Vento. Procurava,além de um profissional que a ajudasse a melhorar sua performance,fazer novos amigos,já que tinha acabado de se mudar para o Rio. Não esperava se apaixonar já na primeira aula.
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— Foi amor à primeira vista,à primeira corrida — lembra Júlia,que namora há cinco meses o especialista de dados João Victor Newlands,de 28 anos. — Começamos a conversar depois dos treinos,marcamos uma saída,e depois não nos desgrudamos mais.
Formados para unir os interessados na atividade física,os clubes de corrida vão juntando casais e mudando os rituais de enamoramento e amor. A noitada é substituída pelo despertar mais cedo. O pace e o alongamento se tornam o assunto para aproximação. Mais do que a aparência,a boa forma vale para impressionar.
Em Fortaleza,um clube de corrida também uniu a jornalista Carol Pires,de 39 anos,e o dentista Feliphe Holanda,de 35. Mas o percurso amoroso foi um pouco mais longo e demorado do que o de Júlia. A jornalista integrava há 13 anos o grupo Stark,que se exercita na Avenida Beira-Mar,e recebeu no começo deste ano um aluno novo,Feliphe. Os hábitos saudáveis e a rotina de treinos os aproximaram primeiro como amigos. Logo depois,viraram um casal.
— Sempre fui a amiga solteira no meio de vários casais ali no grupo de corrida. Mas o pós-pandemia fez muita gente procurar a corrida,e 2024 me trouxe a surpresa de encontrar o amor onde não esperava — conta.
Segundo o presidente da Federação Paulista de Atletismo,Joel Oliveira,a quantidade de corredores e corridas no estado aumenta desde 2022. Só este ano,houve um crescimento de 46% no número de eventos. Passaram de 335 em 2023 para 491 provas em 2024,no período de janeiro a setembro.
— Se o número de corridas aumenta,cresce também o de pessoas que buscam assessorias para aprimorar o esporte. Identificamos que o mercado cresce em linha — explica Joel.
Casados,Rodrigo e Fernanda se conheceram num treino — Foto: Divulgação
O que começou como uma paquera em uma manhã de julho de 2018 no Parque da Água Branca,em São Paulo,ultrapassou a linha de chegada e alcançou o altar. A advogada Fernanda de Queiroz e o economista Rodrigo Guide,ambos com 42 anos,se conheceram treinando na equipe RunFun. Agora estão casados,com um filho de 1 ano e 5 meses. E o corre não para.
— Escolhemos provas juntos,traçamos metas e nos ajudamos. É legal ter alguém correndo ao seu lado,literalmente. Indicamos para todos os nossos amigos solteiros — diz Fernanda.
As vantagens de se correr apaixonado
Conexão - O casal partilha os mesmos interesses e passa tempo produtivo juntos.Incentivo - A vida do corredor exige disciplina,alimentação regrada e muitos treinos. Compreendendo os desafios e a superação,um pode incentivar o outro a evoluir.Saúde - Fica mais fácil seguir dietas e bons hábitos alimentares na companhia do parceiro. Um estilo de vida com menos badalação e com horário de sono regrado não é comum a todos.Comunicação - Há aumento da empatia e da sensação de compreensão mútuo.Redução de estresse - A prática esportiva eleva os níveis de dopamina,serotonina,ocitocina e endorfina no organismo. O “hormônio da felicidade” proporciona mais tranquilidade,bem-estar e bom humor,o que ajuda no convívio.
Os aplicativos de relacionamento estão surfando a onda dos dates de corrida. No Dia dos Namorados deste ano,o app Happn fez uma parceria com o Strava,uma plataforma de monitoramento de treino que se transformou numa comunidade virtual que une praticantes de corrida e outros esportes pelo mundo,para conectar pessoas que corriam pelos mesmos lugares por meio do geolocalizador.
— Há mais ou menos um ano,também lançamos uma ferramenta de conversação dentro do Strava. Assim,uma pessoa te chama e pode combinar uma corrida junto. É um facilitador para comunicação entre atletas — destaca Rosana Fortes,gerente do Strava no Brasil,que já documentou alguns casais formados pelo aplicativo. — Se a gente pensar,o Strava acaba sendo um filtro natural para juntar pessoas que tenham como afinidade o esporte e a vida saudável.
A tendência é mundial. Em Nova York,há um clube de corrida dedicado aos solteiros,o Lunge Run Club,cujo slogan é “Que tal sair para uma corrida e tomar um drink depois?”. O encontro acontece todas as quartas-feiras no fim do dia e termina com um happy hour num bar.
O ator Pedro Caetano,do grupo Arte Corre Crew,acredita que o movimento cresceu porque os clubes passaram a oferecer mais do que o exercício:
— Os grupos promovem encontros com pessoas diferentes,em lugares diferentes. Muitos têm música,café da manhã,brindes,o que aumenta a interação.
O ambiente propício não significa um match instantâneo. Há nove meses no mundo das corridas para ajudar na ansiedade e na preparação para um teste de aptidão física,a nutricionista Thaissa Santana Vieira Lima,de 28 anos,ainda não passou dos flertes com os companheiros.
— Às vezes,alguém puxa um assunto por mensagens,mas não passa disso. Tem uma galera bem bonita correndo,mas até agora nada aconteceu. Só fiz amigos incríveis — conta a moradora de Vicente de Carvalho.
Fora dos aplicativos de relacionamento,Clarissa de Oliveira Corrêa,de 36 anos,corre há mais de uma década,mas só aderiu aos grupos recentemente. Ainda não encontrou um par,mas concorda que o ambiente é perfeito para novas conexões:
— Nada substitui a espontaneidade e o que surge de uma troca de olhares,por exemplo. E,no caso dos grupos de corrida,você cria um filtro para se conectar com pessoas que já têm interesses e estilo de vida parecidos.
A neuropsicóloga Amanda Bastos avalia que os clubes de corrida podem ajudar na criação de conexões em geral:
— Ativa uma sensação de filiação e pertencimento que deixa a pessoa menos ansiosa na hora de fazer novas amizades.