2024-09-19 HaiPress
Datena agride Marçal no debate da TV Cultura — Foto: Reprodução
GERADO EM: 19/09/2024 - 04:30
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
LEIA AQUI
Quando o candidato José Luiz Datena levantou a cadeira da candidata Marina Helena e atingiu o candidato Pablo Marçal,eu me lembrei muito do (por ora) falecido X,aquele poço de hostilidade e intolerância,onde todos fazem questão de exibir o seu lado pior e onde o importante não é discutir ou apresentar argumentos,mas apenas lacrar.
Ana Paula Lisboa: Eu nunca percoLeo Aversa: A conta das queimadas chegou
O que houve ali foi um choque de culturas: de um lado uma provocação digital,do outro uma resposta analógica.
O candidato Pablo Marçal,37 anos,cresceu nas redes sociais e vive em função delas: uma realidade com delay,a ser apresentada em cortes e memes. Já o candidato José Luiz Datena,67 anos,que vem de outras mídias,é de um tempo em que a única resposta para a provocação “Você não é homem” era a reação troglodita que se esperava dos,ora,“homens”.
Demorou para acontecer e talvez aconteça de novo,ainda que todas as mesas e cadeiras sejam aparafusadas ao chão de todas as emissoras; nós ainda não vimos nada.
Estamos escolhendo muito mal os protagonistas da nossa História.
Não ligamos mais para bom senso ou capacidade de diálogo; coerência e apego à verdade são irrelevantes. O que conta mesmo é ter seguidores,e não há maneira mais garantida de ter seguidores do que trabalhar nos extremos. Qualquer pessoa com um mínimo de familiaridade com a internet sabe: quanto mais radical uma opinião,mais popular se torna.
Os heróis do X abordam questões complexas de forma simplificada. Eles não querem ter razão,querem ter likes. E querem ganhar mais seguidores. Funciona para fazer publi e para ganhar dinheiro,mas não funciona para construir um mundo melhor.
Aliás,a própria ideia de “mundo melhor” é inocente e anacrônica. Não se usa mais.
Joaquim Ferreira dos Santos: As flores mortas da primavera
O que se usa é uma cultura perversa de confronto e de desrespeito. Ataques pessoais e agressividade máxima estão se tornando parte essencial do discurso político. A candidata Tábata Amaral,que tenta em vão discutir propostas nos debates,ainda não ultrapassou 10% de intenções de voto – e talvez não passe disso,porque o foco não está mais nas decisões de governo,e sim no espetáculo. É a política como reality show.
Tábata tem pouco valor de entretenimento. Ela se prende a ideias num momento em que os eleitores se rendem às personalidades. Isso não chega a ser novo – o Brasil é campeão mundial de sebastianismo – mas está cada vez pior. Influenciadores (do quê? de quem?) são os novos salvadores da Pátria.
Jojo Todynho,por exemplo,que tem mais de 30 milhões de seguidores no Instagram,acaba de avisar que vai entrar para a política; a dra. Deolane Bezerra,20,7 milhões de seguidores,também manifestou interesse (mas talvez demore porque está com uns probleminhas no momento).
Estamos trocando ideias por likes e conteúdo por show. A política virou um palco onde não importa mais o que se diz ou se faz,mas quantas visualizações gera. Datena ganhou 100 mil novos seguidores com a cadeirada em Marçal e,de quebra,um espaço enorme na mídia,completamente desproporcional à sua importância nas eleições.
Saem as ideias,entra o potencial de viralização.
É uma péssima troca.