2024-09-05 HaiPress
Plantio de banana e cacau em fazenda da Belterra em Parauapebas (PA) — Foto: Divulgação / Belterra Agroflorestas
GERADO EM: 05/09/2024 - 04:31
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A queda recente do desmatamento na Amazônia é uma notícia para se comemorar,mas dados científicos mostram que,considerando o histórico de degradação no bioma e a emergência climática,o combate ao corte de árvores,por si só,não é o suficiente. Mais do que nunca,reflorestar é preciso. E pode ser também lucrativo.
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Não por menos,a agenda do restauro vem ganhando força. Hoje,existe uma nascente indústria de iniciativas que aliam o reflorestamento à geração de renda,com participação de povos originários e a esperança em um futuro com mais árvores e menos desastres climáticos.
Números de reflorestamento — Foto: Editoria de Arte
Necessidade de reflorestamento na Amazônia — Foto: Editoria de Arte
Em 2012,o Brasil assinou o compromisso,no Acordo de Paris,de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. A meta ainda está distante,mas,semana passada,o Ministério do Meio Ambiente aprovou uma nova versão do Plano Nacional de Vegetação Nativa (Planaveg),principal política de fomento à restauração,seja por meio da recuperação de áreas públicas ou do incentivo ao ambiente de negócios em torno do reflorestamento.
Existem diferentes iniciativas de recuperação florestal no país. Criado em 2017,o grupo Aliança pela Restauração na Amazônia congrega agentes de múltiplos setores envolvidos no trabalho de restauração. Em 2020,foram identificadas 2.773 iniciativas de reflorestamento,somando 113,5 mil hectares. Destacam-se,por exemplo,o trabalho para recuperar a área degradada da Terra Indígena Puyanawa,no Acre,e o projeto Cacau Floresta,no Pará.
— A agenda de restauração ainda é nova — diz Rodrigo Freire,secretário executivo da organização. — Na prática,cada um corre quase sozinho para encontrar cadeias estruturadas de sementes,mudas e prestadores de serviço. A Aliança busca direcionar os arranjos de implementação e execução da restauração,para,assim,alavancar a escala.
Produtor de mudas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de São Sebastião do Uatumã (AM) — Foto: Divulgação / Idesam
O reflorestamento é uma urgência. Um estudo publicado este ano pela revista Nature mostra que,após a degradação de quase 20% de sua vegetação original,a Amazônia pode,em 2050,chegar ao ponto de “não retorno”,a partir do qual o restante da floresta não será capaz de se sustentar,e o bioma começaria a sofrer um processo trágico,e sem volta,de savanização.
Como a Amazônia é fundamental para a manutenção do regime de chuvas no Brasil,lavouras no país todo podem ser perdidas.
— O cenário de tragédias ambientais também pioraria muito. Não adianta só parar o desmatamento,precisamos mudar a lógica para uma agenda regenerativa — alerta Rodrigo Freire.
O principal chamariz é o ainda incerto mercado de crédito de carbono. As novas empresas Re.Green e Mombak,adquiriram terras degradadas em estados como o Maranhão e o Amazonas com o objetivo de restauração. Cada tonelada de carbono que as árvores plantadas tirarem da atmosfera pode ser vendida para empresas interessadas em compensar o planeta por sua poluição. Há pouco,a multinacional Microsoft comprou um projeto da Mombak.
Recentemente,dois projetos de reflorestamento apoiados pelo Floresta Viva Amazonas,do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam),foram selecionados por um edital do BNDES e da Eneva,com a meta de restaurar 400 hectares na região de Manaus e Presidente Figueiredo,no Amazonas,nos próximos quatro anos.
Em comum,os projetos Restauração Ecológica Produtiva e o Reflora apostam na aliança entre reflorestamento com sistemas agroflorestais e geração de renda para comunidades originárias. As iniciativas preveem capacitação e uso de mão de obra local,a fim de ajudar a estruturar uma cadeia econômica da restauração ambiental. O objetivo é inverter a lógica de que o ser humano precisa derrubar árvores para ganhar dinheiro.
— A ideia é criar um modelo sustentável,para fomentar a restauração de forma produtiva — explica Vinicius Bertin,engenheiro florestal e coordenador do Projeto Floresta Viva Amazonas. — Há dez anos,todos os projetos eram de ONGs ou do governo. Isso mudou. Além dos benefícios ambientais,a restauração traz emprego e renda.
Dois milhões de mudas
A gigante Vale,que gerencia a Floresta Nacional de Carajás como forma de compensar por sua operação mineral naquela região do Pará,também investe em ações de reflorestamento. Além da obrigatoriedade de recuperar um milhão de hectares,a empresa estabeleceu a meta voluntária de proteger mais 400 mil hectares e recuperar cem mil. Até aqui,13.960 hectares foram restaurados por meio dessa ação voluntária.
Uma das startups apoiadas pelo Fundo Vale,a Belterra pretende recuperar 20 mil hectares no estado do Pará até 2030. Na Fazenda São Francisco,no município de Parauapebas,uma antiga área de pastagem,a Belterra hoje mescla várias espécies florestais e de frutos. No local,a startup ainda tem um viveiro que produz cerca de dois milhões de mudas por ano.
— O mercado de restauração deu um salto,e a Belterra é uma grande escola. Não é algo artesanal,é um negócio com capacidade e escala — defende Patrícia Daros,diretora do Fundo Vale.