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Lula e Petro se descolam da região ao não condenarem TSJ da Venezuela

2024-08-24 HaiPress

O presidente da Colômbia,Gustavo Petro,e o presidente Lula — Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

RESUMO

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GERADO EM: 24/08/2024 - 04:31

Lula e Petrosilêncio estratégico sobre a Venezuela

Lula e Petro se omitem em relação à validação de Maduro na Venezuela para não prejudicar diálogo. Brasil e Colômbia evitam condenação para manter canais abertos. O silêncio é estratégico,visando evitar isolamento e prezar por solução política. Relações com Venezuela serão mantidas,apesar da guinada autoritária. A situação cria desafios para os líderes e impacta comércio e cooperação bilateral.

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No dia em que Estados Unidos,União Europeia (UE) e dez governos latino-americanos condenaram a decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela de validar a segunda reeleição do presidente Nicolás Maduro,conforme anunciou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país na noite de 28 de julho,Brasil e Colômbia permaneceram em silêncio. Durante todo o dia de ontem,existiu a expectativa,alimentada por fontes dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro,de que fosse divulgado um comunicado conjunto com um posicionamento sobre a resolução do TSJ que,ao contrário do que pediram ambos os presidentes,não apresentou atas eleitorais que comprovem o resultado do CNE.

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O silêncio dos dois governos,que ainda consideram,segundo fontes oficiais,que existe uma “janela de oportunidade” para iniciar uma negociação entre governo e oposição até a posse presidencial na Venezuela,prevista para 10 de janeiro de 2025,tem duas explicações,segundo as mesmas fontes: Lula e Petro se falaram no final do dia de ontem,sem dar tempo para que fosse preparada uma nota ou definido o tom de eventuais declarações individuais,e a extrema cautela de ambos governos por temor a que um pronunciamento sobre a decisão do TSJ pudesse “fechar canais de diálogo” com o Palácio de Miraflores. Segundo fontes,“as duas chancelarias estão trabalhando num texto,mas não para hoje (ontem)”.

Sem queimar pontes

Muitos dos países que condenaram a resolução do máximo tribunal venezuelano já tiveram seus diplomatas expulsos da Venezuela,ou seja,na prática,romperam relações com o Palácio de Miraflores. Brasil e Colômbia mantêm um vínculo normal com suas embaixadas e consulados funcionando — no caso brasileiro,assumindo,ainda,a administração e a segurança das sedes diplomáticas de Argentina,onde estão refugiados seis colaboradores da líder opositora María Corina Machado,e Peru. Isso gera,para os diplomatas que estão em Caracas,enormes dores de cabeça,e a necessidade de preservar o diálogo com as autoridades chavistas.

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Lula e Petro pretendem se pronunciar,mas cada passo de ambos é calculado milimetricamente. E,embora os chanceleres Mauro Vieira e Gilberto Murillo tenham se falado nos últimos dias,nada será feito antes de uma conversa entre os chefes de Estado. Fontes dos dois governos admitiram que “qualquer palavra ou expressão mal colocada pode queimar pontes”. Uma das fontes consultadas afirmou que não interessa nem ao Brasil nem à Colômbia “uma Venezuela pobre,isolada e violenta”. Enquanto for possível,frisaram as fontes,“os dois países insistirão numa saída política”. “Descer a lenha neste momento será contraproducente” para os interesses do Brasil e,finalmente,para uma possível saída para a crise venezuelana,enfatizou uma das fontes.

Até mesmo o presidente do México,Andrés Manuel López Obrador,que tem uma posição similar à de Lula e Petro,chefes de Estado com os quais discutiu a situação da Venezuela,se expressou sobre a resolução do TSJ,respondendo a uma pergunta feita durante sua tradicional coletiva diária.

— Vamos esperar,porque ontem (anteontem) o tribunal sustentou que o presidente Maduro venceu as eleições e,ao mesmo tempo,recomendou que a ata [eleitoral] seja divulgada — declarou o presidente mexicano.

Terreno desconhecido

López Obrador repetiu o que os presidentes do Brasil e México já disseram em reiteradas oportunidades. Ontem,esperava-se um comunicado de ambos que fosse além do pedido de atas. O conteúdo do texto ainda em preparação é aguardado por governo e oposição em Caracas.

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A partir de agora,a relação entre Lula e a Venezuela de Maduro entrará num terrenho desconhecido para o brasileiro. Para o venezuelano,não há nada novo sob o Sol. Maduro,como fez após a eleição presidencial de 2018,cujo resultado não foi reconhecido por mais de 50 países,enfrentará o isolamento na região e as sanções internacionais se apoiando em aliados incondicionais como Rússia e China. Existe apenas uma coisa muito clara na cabeça do presidente e seus assessores,segundo fontes oficiais: o Brasil não voltará a sair da Venezuela,como fez quando Jair Bolsonaro chegou ao poder,em janeiro de 2019. Essa decisão é considerada pelo Palácio do Planalto e o Itamaraty um “gravíssimo erro”.

Não se cogita romper relações com a Venezuela,embora seu presidente,a partir de 10 de janeiro de 2025,passe a não ser reconhecido pelo Brasil. Até lá,data em que são realizadas as posses na Venezuela,Maduro continuará contando com o reconhecimento do governo brasileiro.

Lula e Petro têm uma longa relação com o chavismo. Ambos tiveram um vínculo de proximidade com o ex-presidente Hugo Chávez e,em consequência,influência política na Venezuela. Não mais. Uma nova realidade se impôs e,com ela,um gigantesco desafio.

Eleições na Venezuela

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Pessoas fazem fila em uma seção eleitoral em Caracas durante a eleição presidencial venezuelana em 28 de julho de 2024. — Foto: Juan BARRETO / AFP

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Membros da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) fazem fila em uma seção eleitoral durante a eleição presidencial venezuelana — Foto: Yuri CORTEZ / AFP

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Uma mulher vota durante a eleição presidencial venezuelana,em Caracas,em 28 de julho de 2024. — Foto: Yuri CORTEZ / AFP

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A líder da oposição venezuelana Maria Corina Machado deposita seu voto durante a eleição presidencial,em 28 de julho de 2024. — Foto: Federico PARRA / AFP

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O presidente venezuelano Nicolás Maduro vota durante a eleição presidencial,em 28 de julho de 2024. — Foto: Juan BARRETO / AFP

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O candidato presidencial da oposição venezuelana Edmundo Gonzalez Urrutia mostra sua cédula enquanto vota na escola Santo Tomas de Villanueva em Caracas durante a eleição presidencial em 28 de julho de 2024. — Foto: Photo by RAUL ARBOLEDA / AFP

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Pessoas fazem fila do lado de fora de uma seção eleitoral em Caracas durante disputa presidencial venezuelana — Foto: Federico PARRA / AFP

Venezuelaanos vão as urnas para escolher novo presidente

Guinada autoritária

Não há mais dúvidas para fontes diplomáticas brasileiras: “a Venezuela deu um giro autoritário”. No Palácio do Planalto os termos usados são mais cuidadosos,mas algumas conclusões,em termos de futuro,são similares às que se ouvem no Itamaraty,entre elas a de que “tudo ficará mais complicado a partir de agora,mas uma ruptura deve ser evitada”.

A relação,“ficará estremecida e perderá intensidade”. O Brasil manterá um comércio bilateral que dificilmente chegará perto dos US$ 6 bilhões anuais de outras épocas; acordos de cooperação que serão mais difíceis de implementar; as visitas serão reduzidas; e a participação da Venezuela em foros regionais,entre eles o Consenso de Brasília,deverá ser reavaliada.

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