Segundo especialistas,eles podem ter um comportamento selvagem quando querem acasalar — Foto: Bahamas

RESUMO

GERADO EM: 19/08/2024 - 06:09

Golfinho solitário causa ataques em praia japonesa

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Nas praias de uma idílica faixa costeira do centro do Japão,os salva-vidas verificam a água,preparados para chamar de volta à areia as pessoas que nadam no mar ao menor sinal de alguma nadadeira. Os dentes afiados exibidos nos cartazes alertam os nadadores para que tomem cuidado porque,pelo terceiro ano consecutivo,há perigo na água.

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Não,não são tubarões. São golfinhos. Possivelmente,um único golfinho solitário e sexualmente frustrado.

Na baía de Wakasa,a mais de 300 quilômetros a oeste de Tóquio,os ataques de golfinhos feriram pelo menos 47 pessoas desde 2022. Muitas delas sofreram mordeduras superficiais nas mãos,mas algumas foram levadas de urgência a hospitais com ossos quebrados ou feridas que precisaram de pontos de sutura.

Em 2022,21 pessoas relataram lesões causadas por ataques de golfinhos em um trecho costeiro próximo à cidade de Echizen,segundo a polícia da prefeitura de Fukui. A maioria foi reportada durante o que um meio de comunicação japonês chamou de “verão da ameaça dos golfinhos”. Um homem contou à mídia local que estava nadando perto da costa quando um golfinho lhe mordeu o braço e tentou se lançar sobre ele,quase o submergindo na água.

No ano seguinte,os ataques se concentraram nas praias da costa próxima à cidade de Mihama. Em 2023,10 pessoas foram feridas,disse um porta-voz da polícia de Fukui. Em um caso,um homem teve as costelas quebradas.

Desde 21 de julho deste ano,16 pessoas foram feridas em ataques de golfinhos,principalmente nas praias próximas a Mihama e na cidade vizinha de Tsuruga,segundo as autoridades locais. Duas delas sofreram ferimentos graves nas mãos que precisaram de dezenas de pontos.

Por que os golfinhos se aproximaram tanto da costa? São agressivos ou apenas brincalhões? Por que esses ataques continuaram por tanto tempo?

Um cartaz colocado pelas autoridades nas praias — Foto: The New York Times

“Quem sabe a razão? Temos que perguntar aos golfinhos”,disse Hiromu Nohara,funcionário da cidade de Mihama. No entanto,há algumas teorias.

Por um lado,pode ser um único golfinho. Ryoichi Matsubara,diretor do Aquário Echizen Matsushima de Fukui,disse que as fotos e vídeos que revisou de alguns dos ataques de 2022 e 2023 pareciam mostrar o mesmo golfinho mular macho da região do Indo-Pacífico.

Matsubara disse que o mesmo golfinho pode ter sido também responsável pelos ataques deste ano,embora ainda não tenha obtido imagens recentes.

O golfinho pode estar exibindo um comportamento de acasalamento,disse,acrescentando que em 2022 e 2023,foi observado tentando “pressionar seus genitais contra as pessoas”. Mas em muitos casos,os banhistas eram mordidos quando se aproximavam ou tentavam tocar o golfinho,disse Matsubara.

Putu Mustika,professora e pesquisadora marinha da Universidade James Cook da Austrália,disse que os golfinhos podem ferir inadvertidamente os humanos quando realizam comportamentos de acasalamento devido à sua enorme força.

— Os golfinhos,quando se acasalam,podem ser muito agressivos — disse,e acrescentou que se lançar sobre um humano pode ser um ato sexual e um sinal de que se trata de um “golfinho libidinoso e solitário”.

Esse golfinho também pode ser agressivo por natureza e a situação pode se agravar com os humanos tentando tocá-lo,acrescentou Mustika. Os golfinhos costumam ser animais sociais que se movem em grupos,mas golfinhos solitários que buscam contato humano não são incomuns.

Na década de 2000,um golfinho mular chamado Moko visitou o mesmo trecho costeiro da Nova Zelândia durante três anos. Ele se tornou uma celebridade nacional por suas interações brincalhonas com os nadadores. Mas seu comportamento às vezes se tornava inquietante,como quando se recusou a deixar que uma mulher voltasse para a costa.

Em 2018,uma cidade francesa proibiu temporariamente nadar no oceano depois que um golfinho mular macho solitário,apelidado de Zafar,começou a mostrar comportamento sexual,incluindo esfregar-se contra nadadores e barcos.

Medidas

No Japão,as autoridades da prefeitura de Fukui adotaram uma série de medidas para tentar interromper os ataques,com variados graus de sucesso.

Instalaram dezenas de dispositivos acústicos submarinos que emitem um som de alta frequência projetado para desencorajar os golfinhos. Colocaram cartazes e distribuíram folhetos alertando os banhistas de que os golfinhos podem morder e até arrastar os nadadores para o mar. Algumas praias limitaram o horário para entrar no mar e começaram a realizar rondas de vigilância com salva-vidas.

Acima de tudo,querem que as pessoas parem de tentar interagir com os golfinhos.

— As pessoas fugiriam se fosse um urso. Não há diferença entre golfinhos e ursos em termos de capacidade destrutiva. Profissionais como nós temos medo delesmas as pessoas que não sabem disso acham que são adoráveis — disse Matsubara,o diretor do aquário.